quarta-feira, 11 de maio de 2011

A reforma do ensino médio

A reforma do ensino médio
Com o objetivo de adequar as três séries finais do ensino
básico às demandas do mercado de trabalho, onde há uma
grande carência de mão de obra qualificada, o Conselho
Nacional de Educação (CNE) aprovou novas diretrizes
para o ensino médio, incentivando as escolas públicas e
particulares a elaborar currículos mais flexíveis e
permitindo que os alunos dos cursos noturnos tenham mais
tempo para concluir os estudos.
Com 10 milhões de alunos matriculados, o nível médio
de ensino é o principal gargalo do sistema educacional.
Ele não prepara os alunos nem para o mercado de trabalho
nem para os exames vestibulares. Tem um currículo
generalista, pouco atraente e distante do ambiente social,
econômico e cultural em que os estudantes vivem. Por
isso, o ensino médio tem alta taxa de evasão - segundo o
IBGE, 40% dos alunos abandonam o curso por desinteresse
e 27% por razões de trabalho e renda.
De todos os ciclos educacionais, o ensino médio é o
que mais carece de qualidade. Os dados do Índice da
Educação Básica, de 2009, mostram que os estudantes do
ensino médio têm graves dificuldades em português e
matemática. A maioria não consegue fazer uma redação
com um mínimo de rigor lógico, identificar a ideia central
de um texto ou fazer contas mais complexas, que exigem
conhecimento de álgebra.
Pelas novas diretrizes do CNE, as escolas poderão
organizar o ensino médio em torno de quatro grandes áreas
- trabalho, tecnologia, ciência e cultura - e terão autonomia
para distribuir a carga horária de cada uma delas conforme
as especificidades regionais. Assim, embora continuem
obrigadas a ensinar matemática, português, ciência,
filosofia e sociologia, as escolas localizadas em cidades
industriais poderão dar prioridade a tecnologia e trabalho,
ampliando o peso de disciplinas como física e química no
currículo. Já as escolas situadas em regiões turísticas
poderão escolher a área de cultura como eixo de atuação,
dando mais espaço para matérias como história e
geografia.
As diretrizes do CNE também autorizam as escolas a
manter o currículo atual, que combina as quatro áreas sem,
contudo, dar ênfase a qualquer uma delas. No caso dos
cursos noturnos, onde estudam 40% dos alunos do ensino
médio, o CNE permite que até 20% das aulas sejam
oferecidas com base no ensino a distância e autoriza as
escolas a distribuir a carga horária mínima do ciclo - de
2,4 mil horas - em mais de três anos. Como a maioria dos
alunos dos cursos noturnos trabalha, é grande o número
dos que chegam atrasados e cansados às salas, o que
compromete a aprendizagem. Por isso, o CNE quer
diminuir o número de aulas por dia e ampliar o prazo de
duração do curso para mais de três anos.
Os especialistas em educação receberam as mudanças
no ensino médio com reservas. Segundo eles, por mais
que as novas diretrizes do CNE possam abrir caminho
para um ensino motivador, criativo e interdisciplinar, elas
deveriam ter sido objeto de experiências prévias, para
evitar problemas de implementação. "O ideal seria aplicar
a flexibilização do currículo em alguns Estados,
primeiramente", diz o professor Marcelo Néri, da FGV.
Os especialistas também temem que os currículos sejam
reformulados apressadamente, com improvisações e
concessões a modismos pedagógicos e mercadológicos.
Além disso, as novas diretrizes exigem um projeto de
requalificação dos professores, laboratórios equipados e
bibliotecas atualizadas - e os municípios de pequeno porte
e os Estados mais pobres não dispõem de recursos
financeiros suficientes para ampliar os gastos com
educação.
As novas regras - que agora só dependem de
homologação pelo ministro da Educação, Fernando
Haddad, para entrar em vigor - eram aguardadas há muito
tempo. A flexibilização do currículo do ensino médio está
prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que
entrou em vigor em dezembro de 1996. O CNE deu um
passo importante para tentar melhorar a qualidade do
ensino médio, mas só o tempo dirá se o caminho escolhido
é o melhor.

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