quinta-feira, 26 de maio de 2011

O desafio de ensinar a língua para todos

A polêmica sobre o "falar popular" revela a necessidade de dialogar com os alunos não familiarizados com a norma-padrão

- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
É óbvio: o célebre poema O Capoeira, de Oswald de Andrade (1890-1954), está quase integralmente em desacordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa. Isso não impede, entretanto, que Pau Brasil, o livro de 1925 em que o texto está incluído, seja estudado nas escolas e frequente as listas de leitura obrigatória das mais concorridas universidades do país.
Do regionalismo de Jorge Amado à prosa contemporânea da literatura marginal, passando pelo modernismo de Mário de Andrade e Guimarães Rosa, refletir sobre as variedades populares da língua, típicas da fala, tem sido uma maneira eficaz de levar os alunos a compreender as formas de expressão de diferentes grupos sociais, a diversidade linguística de nosso país e a constatação de que a língua é dinâmica e se reinventa dia a dia.
A discussão, porém, tomou um caminho diferente no caso do livro Por Uma Vida Melhor, volume de Língua Portuguesa destinado às séries finais na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Um excerto do capítulo "Escrever É Diferente de Falar" foi entendido como uma defesa do "falar errado". Muitas pessoas expressaram o temor de que isso representasse uma tentativa de desqualificar o ensino das regras gramaticais e ortográficas que regem a Língua Portuguesa. De fato, não se pode discutir que o papel da escola é (e deve continuar sendo) ensinar a norma culta da língua.
Conhecer e dominar a comunicação segundo o padrão formal representa, sem dúvida, um caminho poderoso para a ascensão econômica e social de indivíduos e grupos. Acima de tudo, é uma das maneiras mais eficazes por meio das quais a escola realiza a inclusão social: permitir o acesso a jornais, revistas e livros é abrir as portas para todo o conhecimento científico e filosófico que a humanidade acumulou desde que a escrita foi inventada.
Mas, afinal, do ponto de vista da prática pedagógica, está correto contemplar nas aulas a reflexão sobre as variantes populares da língua? A resposta é sim. A questão ganhou relevância com a universalização do ensino nas três últimas décadas. Com a democratização do acesso à Educação, a escola passou a receber populações não familiarizadas com a norma-padrão. Nesse percurso, surgiu a tese de que falar "errado" representava um impedimento para aprender a escrever "certo". Pesquisas na área de didática mostraram exatamente o contrário: o contato com a norma culta da escrita impacta a oralidade. Ao escrever do jeito previsto pelas gramáticas, o aluno tende a incorporar à fala as estruturas e expressões que aprendeu.

Fonte: site da revista nova escola

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Envio o convite para o lançamento de uma obra de minha autoria. Um abraço. Marcos Cordiolli

O livro Currículo escolar: teorias e práticas, de autoria de Marcos Cordiolli, lançado na 18ª edição da EDUCADOR/EDUCAR , em São Paulo de 18 a 21 de maio de 2011.
Currículo escolar: teorias e práticas apresenta o currículo como expressão de trajetórias escolares – sejam as propostas ou as realizadas. Em suas diversas metamorfoses, o currículo escolar, aparece como documento escrito, sistematizando programas e roteiros de estudos; que são convertidos em planejamentos pedagógicos e planos de aula; que orientam (ou deveriam orientar) as ações educativas em sala de aula convertendo-o em currículos praticados (inclusive na dimensão oculta); e que produzirá efeitos sobre as identidades dos estudantes que foram submetidos a processos escolares sob a sua orientação.
Currículo escolar: teorias e práticas também sistematiza os grandes campos da teoria curricular: as funcionalistas, críticas, pós-criticas e fenomenológica e examina as formas e práticas de organização dos conteúdos nos currículos escolares, tais como os ciclos de formação; os movimentos pedagógicos identificados com a Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade; e encaminhamentos metodológicos para formação de valores e padrões de condutas em sala de aula.
Serviço:
Dia: 18/05 – 17h15
Local:

Livro Currículo Escolar: Teorias e Práticas

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O tamanho do desafio da Educação no Brasil

Por Edna Lopes

link para este texto:http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2971724





“Todos nós sabemos alguma coisa, todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso, aprendemos sempre".  Paulo Freire

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” Nelson Mandela
“A boa educação é moeda de ouro. Em toda parte tem valor.” Padre Antonio Vieira

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Cora Coralina
“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram.” Jean Piaget


               As citações acima abriram a cada dia a série sobre educação pública numa emissora de TV do país. A cada dia um aspecto, um retrato da escola em diversas regiões foi ressaltado, deixando bem claro que ou o quadro muda, ou o discurso que prega o desenvolvimento desse país não se sustenta.
         Esta semana,  o Congresso Nacional
também deu início às audiências públicas para debater o Plano Nacional de Educação. O novo PNE deverá traçar as diretrizes e metas para a educação brasileira na próxima década e em muitos estados as comissões de educação das Assembléias Legislativas realizaram também audiências públicas convidando a sociedade para o debate e mobilização, pois o Projeto de Lei (PL nº 8035/10) que está tramitando no congresso tem fragilidades e problemas que devem ser do conhecimento de toda sociedade, afinal será um plano para o país.
           Para quem participou,  como eu, de toda movimentação em razão das conferências municipais e estaduais que culminaram com a CONAE em 2010 deve ter o compromisso não só acompanhar a tramitação do Projeto de Lei, mas participar de toda mobilização para que seja aprovado o quanto antes.
           Enquanto fazia a minha fala na casa legislativa de Alagoas, lembrei que a insensibilidade e o desrespeito de alguns para com a educação e educadores desse estado e desse país quer nos imputar a responsabilidade pelo caos e nada mais oportuno do que as reportagens desta semana para dar uma ideia de como andam as escolas, a merenda, os professores da educação pública e de quem é de fato, a responsabilidade por tudo isso.
            Na crônica O Retrato do descaso na oferta dos serviços públicos em Alagoas – O caso da Educação, que publiquei outro dia, descrevi alguns problemas vivenciados pelas escolas, os estudantes e os educadores de Alagoas e não vou me repetir, mas espero que quem tenha alguma dúvida vá conferir, na prática, o que a falta de seriedade com a educação tem produzido aqui, ali e alhures.
          
Quero ratificar a importância da Educação como política de Estado, como estratégia para que o país se desenvolva, com justiça social e respeito às diferenças, garantindo o direito a todos e a todas a  uma educação de qualidade, em escolas públicas que possibilitem o resgate da admiração e do respeito a quem nelas estude e trabalhe.
 


Alguns desafios que teremos de enfrentar:
a. Incluir 1,4 milhão de crianças de quatro e cinco anos até 2016;
b. Incluir 1,5 milhão de jovens entre 15 e 17 anos até 2016;
c. Garantir uma melhor proporção entre ensino público e privado na educação superior e aumentar o cobertura escolar na faixa entre 18 e 24 anos.
d. Incluir de forma mais significativa crianças de zero a três anos em atendimento de creche pública.
e. Sair do 53º lugar na prova da OCDE (PISA) ou então melhorar a qualidade do aprendizado de nossos alunos;
f. Alcançar um padrão mínimo de qualidade, especialmente nos estados mais pobres, promovendo uma maior equidade na distribuição dos insumos educacionais entre estados, municípios e regiões.
g. Pagar um salário digno para os professores, tornando a profissão atrativa.

Fonte: Blog do Luiz Araújo

Edna Lopes
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=24584

quarta-feira, 11 de maio de 2011

DESAFIO EM EDUCAÇÃO

Um plano para erradicar o analfabetismo
até 2020
Projeto de lei estabelece 20 metas para mudar cenário educacional
no país em quase uma década
O Plano Nacional de Educação,
projeto de lei que tramita na Câmara
dos Deputados, estabelece 20 metas
a cumprir até 2020 – entre elas,
erradicar o analfabetismo e aumentar
o investimento no setor, até alcançar
o índice de 7% do Produto Interno
Bruto (PIB) do país.
Em um encontro promovido pelo
movimento Todos pela Educação,
em São Paulo, representantes do
Ministério da Educação (MEC), do
Conselho Nacional de Educação e
especialistas discutiram os prós e os
contras do plano.
O projeto, que reúne objetivos
relacionados ao desenvolvimento
dos alunos, à formação de
professores e ao financiamento da
educação está sendo discutido em
uma comissão especial da Câmara.
A estimativa é de que seja aprovado
até o fim deste ano.
Entre as metas, estão oferecer
educação em tempo integral em 50%
das escolas públicas de educação
básica e universalizar o atendimento
escolar para estudantes com
deficiência, transtornos de
desenvolvimento e altas habilidades
ou superdotação.
Mais quantidade, menos
qualidade
Para Ricardo Martins, cientista
econômico membro da Comissão
Técnica do Todos pela Educação, o
plano dá ênfase maior à quantidade
e deveria dar mais atenção à
qualidade.
– Falta um diagnóstico da
educação brasileira no plano e ainda
uma estimativa de custos que mostre
como a sociedade vai repartir essa
responsabilidade. Estamos em um
momento em que, mais do que o
direito de acesso à educação, o
importante é o direito de aprender,
o direito da qualidade – diz.
O presidente do Conselho
Nacional de Educação, Antonio
Carlos Ronca, elogiou o avanço do
projeto em relação ao anterior, mas
criticou o índice de 7% do PIB:
– O plano atual é melhor do que
o anterior, mas falta clareza na meta
em relação ao PIB. Não está
sinalizada a urgência da educação.
Falta dizer quanto vamos investir, dar
uma arrancada.
Carlos Abicalil, secretário de
Educação Especial do MEC,
salientou a importância de o novo
plano colocar em seu texto a
estratégia de confrontar os resultados
obtidos no Índice de
Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb) com a média dos
resultados em matemática, leitura e
ciências das provas do Programa
Internacional de Avaliação de Alunos
(Pisa).
*Ângela Ravazzolo viajou a São
Paulo a convite do Movimento Todos
Pela Educação
ÂNGELA RAVAZZOLO* | São
Paulo

A reforma do ensino médio

A reforma do ensino médio
Com o objetivo de adequar as três séries finais do ensino
básico às demandas do mercado de trabalho, onde há uma
grande carência de mão de obra qualificada, o Conselho
Nacional de Educação (CNE) aprovou novas diretrizes
para o ensino médio, incentivando as escolas públicas e
particulares a elaborar currículos mais flexíveis e
permitindo que os alunos dos cursos noturnos tenham mais
tempo para concluir os estudos.
Com 10 milhões de alunos matriculados, o nível médio
de ensino é o principal gargalo do sistema educacional.
Ele não prepara os alunos nem para o mercado de trabalho
nem para os exames vestibulares. Tem um currículo
generalista, pouco atraente e distante do ambiente social,
econômico e cultural em que os estudantes vivem. Por
isso, o ensino médio tem alta taxa de evasão - segundo o
IBGE, 40% dos alunos abandonam o curso por desinteresse
e 27% por razões de trabalho e renda.
De todos os ciclos educacionais, o ensino médio é o
que mais carece de qualidade. Os dados do Índice da
Educação Básica, de 2009, mostram que os estudantes do
ensino médio têm graves dificuldades em português e
matemática. A maioria não consegue fazer uma redação
com um mínimo de rigor lógico, identificar a ideia central
de um texto ou fazer contas mais complexas, que exigem
conhecimento de álgebra.
Pelas novas diretrizes do CNE, as escolas poderão
organizar o ensino médio em torno de quatro grandes áreas
- trabalho, tecnologia, ciência e cultura - e terão autonomia
para distribuir a carga horária de cada uma delas conforme
as especificidades regionais. Assim, embora continuem
obrigadas a ensinar matemática, português, ciência,
filosofia e sociologia, as escolas localizadas em cidades
industriais poderão dar prioridade a tecnologia e trabalho,
ampliando o peso de disciplinas como física e química no
currículo. Já as escolas situadas em regiões turísticas
poderão escolher a área de cultura como eixo de atuação,
dando mais espaço para matérias como história e
geografia.
As diretrizes do CNE também autorizam as escolas a
manter o currículo atual, que combina as quatro áreas sem,
contudo, dar ênfase a qualquer uma delas. No caso dos
cursos noturnos, onde estudam 40% dos alunos do ensino
médio, o CNE permite que até 20% das aulas sejam
oferecidas com base no ensino a distância e autoriza as
escolas a distribuir a carga horária mínima do ciclo - de
2,4 mil horas - em mais de três anos. Como a maioria dos
alunos dos cursos noturnos trabalha, é grande o número
dos que chegam atrasados e cansados às salas, o que
compromete a aprendizagem. Por isso, o CNE quer
diminuir o número de aulas por dia e ampliar o prazo de
duração do curso para mais de três anos.
Os especialistas em educação receberam as mudanças
no ensino médio com reservas. Segundo eles, por mais
que as novas diretrizes do CNE possam abrir caminho
para um ensino motivador, criativo e interdisciplinar, elas
deveriam ter sido objeto de experiências prévias, para
evitar problemas de implementação. "O ideal seria aplicar
a flexibilização do currículo em alguns Estados,
primeiramente", diz o professor Marcelo Néri, da FGV.
Os especialistas também temem que os currículos sejam
reformulados apressadamente, com improvisações e
concessões a modismos pedagógicos e mercadológicos.
Além disso, as novas diretrizes exigem um projeto de
requalificação dos professores, laboratórios equipados e
bibliotecas atualizadas - e os municípios de pequeno porte
e os Estados mais pobres não dispõem de recursos
financeiros suficientes para ampliar os gastos com
educação.
As novas regras - que agora só dependem de
homologação pelo ministro da Educação, Fernando
Haddad, para entrar em vigor - eram aguardadas há muito
tempo. A flexibilização do currículo do ensino médio está
prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que
entrou em vigor em dezembro de 1996. O CNE deu um
passo importante para tentar melhorar a qualidade do
ensino médio, mas só o tempo dirá se o caminho escolhido
é o melhor.

Prazo de validade

Prazo de validade
TONICO PEREIRA
Oensino no Brasil, há muito
tempo, não sobrevive em excelência,
apesar da boa vontade de alguns
(Anísio Teixeira, Paulo Freire e
Darcy Ribeiro). A má vontade de
muitos, que não gerenciam bem a
matéria, às vezes por falta de
recursos, outras por falta de vontade
política ou por desonestidade
mesmo, impede a excelência de
sobreviver na nossa rede de ensino.
A partir dessa constatação, resumida
e verdadeira, resolvi sonhar com um
ensino autossustentável
financeiramente e que se fizesse
interessante o suficiente para a
vontade política torná-lo prioridade
e includente de todas as classes
sociais, sem lançar mão de um
raciocínio cotista e simplista onde
habita o berço/raiz da discriminação.
Ao combater uma discriminação não
devemos usar outra como linha de
pensamento contrário, mas sim
lançar mão de horizontes mais largos,
como um verdadeiro Mandela, líder
sim de um povo e não de uma raça
— se é que existem raças onde
sobrevive o homem.
Vou tentar agora materializar meu
sonho com o meu parco
conhecimento matemático, mas
tendo a imaginação que Deus me
deu como aliada. Salve a
imaginação!
Seria mais ou menos assim: todos
os formados em universidades
federais, estaduais e municipais
passariam a contribuir através de um
carnê, de valor insignificante e
apenas simbólico para quem
contribui, mas de altíssima
significância para o ensino brasileiro,
e que não excederia a 1% de um
salário mínimo por mês durante todo
o tempo de vida profissional útil do
exuniversitário (desde que
empregado). Recursos estes que
deveriam ser gerenciados por uma
fundação de abrangência nacional e
revertidos sistematicamente em
caráter exclusivo ao ensino
fundamental, médio e superior.
Transformando em cidadãos a nossa
juventude e funcionando como
contrapartida automática e justa sem
lançar mão de recursos
discriminatórios (cotas) que nos
levam — aí sim — ao conceito e
aceitação de cidadãos de segunda
classe, que nós brasileiros temos de
recusar peremptoriamente, pois o
que queremos é sonhar e realizar a
integração maior do nosso povo, não
só no carnaval e no futebol, mas,
principalmente, nas salas de aula,
essência maior do cidadão.
Eu reconheço no ser humano a
capacidade de ser fundamentalmente
e prioritariamente uno e só por isso
me encorajo a ponto de externar a
minha posição sincera e sem
subterfúgios, mas é claro que existem
urgências que necessitam ser sanadas
imediatamente. Que não poderiam
esperar o tempo necessário para
implantação desta proposta,
portanto, até lá, poderíamos
conviver com o sistema de cotas,
desde que tenha um prazo de
validade de alguns anos proposto por
alguém de direito e conhecimento.
O resto é anomalia e ignorância.
E, mais uma vez, se me permitem
brancos, negros, índios, imigrantes
em geral, pobres e ricos: viva
Mandela!
TONICO PEREIRA é ator.

"A escassez de mão de obra qualificada vai acabar"

Fernando Haddad, ministro da Educação
"A escassez de mão de obra
qualificada vai acabar"
Ao anunciar o projeto de lei
para criar o Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico
(Pronatec), em 27 de abril, a
presidente Dilma Rousseff
admitiu que a capacitação da
mão de obra já não atende às
necessidades do País
Por Denize Bacoccina e Guilherme
Queiroz
A dura missão de recuperar o
atraso nessa área está nas mãos do
ministro da Educação, Fernando
Haddad. Ele pretende expandir de
um milhão para três milhões o número
de pessoas preparadas no ensino
técnico, que terá um investimento
de R$ 1 bilhão para aumentar a
oferta de bolsas e de crédito para
estudantes. Em entrevista exclusiva
à DINHEIRO, Haddad afirma que
os resultados desse programa poderão
ser vistos dentro de alguns
anos.
DINHEIRO – No lançamento
do Pronatec, a presidente
Dilma admitiu a dificuldade enfrentada
pelas empresas para encontrar
mão de obra qualificada.
O programa acabará com isso?
Em quanto tempo?
FERNANDO HADDAD – Ao
longo da última década, nós mais que
dobramos o número de técnicos formados
no Brasil e triplicamos o número
de graduados. Tenho dito que
esse esforço vai produzir efeitos de
curto prazo e as empresas vão sentir
a diferença. Significa dizer que essa
sensação de escassez de mão de
obra seria muito pior se o esforço
de expansão não tivesse sido feito.
Se nos lembrarmos que, há 30 anos,
os engenheiros formados não tinham
mercado para trabalhar, o cenário
hoje é muito melhor. Estamos num
ponto em que as empresas ainda se
ressentem da falta dessa mão de obra
especializada, mas essa sensação vai
melhorar.
DINHEIRO – Mas a sensação
entre muitos empresários é a
oposta, de que haverá um déficit
ainda maior.
HADDAD – As nossas projeções
indicam o contrário. A decisão de
expandir as universidades federais foi
tomada em 2005. De lá para cá,
dobramos as vagas de ingresso, que
eram em torno de 110 mil e são agora
220 mil. Pode-se dizer que esse número
já deveria ter atenuado a sensação
de déficit, mas é preciso cinco
anos para formar um engenheiro.
Por isso, digo que a sensação vai
diminuir. Hoje muitos investimentos
em educação estão maturando.
"Queremos condicionar o seguro-desemprego
à frequência em cursos"
Fila de trabalhadores requerendo o
seguro-desemprego em São Paulo
DINHEIRO – De que modo
essa deficiência na qualificação
atrapalha o desenvolvimento do
País?
HADDAD – Em todos os sentidos,
sobretudo quando se está num
ciclo de crescimento. Quando a economia
não cresce, como ocorreu nas
décadas de 1980 e 1990, não se
nota isso porque se está
“subcontratando”. É o caso do engenheiro
que abre uma loja de sucos
porque não tem mercado. Quando
a economia passa a crescer, há um
custo associado ao déficit de qualificação.
Mas, a sensação de es-cassez
de mão de obra qualificada vai diminuir
porque hoje estamos formando
muito mais do que no passado recente.
DINHEIRO – Mas o quadro
já pode ser considerado bom?
HADDAD – Diria que há setores
que ainda se ressentem muito da
falta de qualificação. Mas, no curto
prazo, vai melhorar. Sobretudo, porque
o Pronatec foi lançado para uma
área onde ainda não tínhamos um
ENTREVISTA
Continua
11/05/11
programa de grande porte, ou seja,
em qualificação. Muitas vezes, o que
falta é o profissional de nível médio
com um preparo mais específico. Os
números mostram. Desde 2005, tivemos
seis milhões de matrículas no
ensino superior e um milhão de matrículas
no ensino técnico.
"Houve uma ampliação de 23% nas
vagas gratuitas do Sistema S, pelo Senai
e pelo Senac"
Aluna durante aula em escola do Senai
DINHEIRO – Por que essa diferença
tão grande entre os números
de matrículas?
HADDAD – Porque começamos
a expandir a rede técnica apenas
muito recentemente, começando
pelo acordo com o Sistema S ( formado
por entidades como o Sesc,
Senac, Senai e Sesi, entre outras,
com recursos extraídos do
faturamento das empresas, com a finalidade
de qualificar e promover o
bem-estar social de seus funcionários),
que já teve um impacto formidável
na qualificação. Em 2010, tivemos
uma ampliação de 23% das
vagas gratuitas oferecidas no Sistema
S, pelo Senai e pelo Senac. Pelo
programa Brasil Profissionalizado, foi
feita a reestruturação do ensino médio
técnico estadual. De técnicos, já
estamos formando mais de um milhão
por ano, sem contar quem sai
de cursos de qualificação.
DINHEIRO – O governo espera
elevar o atual um milhão de
alunos no ensino técnico para
quanto?
HADDAD – Temos a meta de
dobrar, que está no Plano de Desenvolvimento
da Educação (PNE), até
2020. Mas eu imagino que possamos
triplicar o número de matrículas,
superando três milhões no fim da
década.
DINHEIRO – Como vai ser a
participação do Sistema S e do setor
privado, de um modo geral
no Pronatec?
HADDAD – O setor privado vai
poder utilizar o financiamento estudantil
para empresas que queiram
qualificar seus funcionários nas escolas
credenciadas pelo MEC. Neste
ano, já teremos de cara R$ 300 milhões,
mas o ministro Guido Mantega
(Fazenda) já sinalizou que, como se
trata de um financiamento, esses recursos
podem subir. E os juros são
muito vantajosos, de 3,4% ao ano,
negativos em termos reais. Temos
um acordo, ainda, com o Sistema S,
que manda destinar, até 2014, dois
terços da contribuição compulsória,
que incide sobre a folha, para cursos
gratuitos. Temos também a expansão
da rede federal, que hoje
conta com 354 unidades, sendo que
214 foram construídas no governo
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e a presidente Dilma autorizou
mais 200 até 2014. Isso porque o
programa de Financiamento Estudantil
(Fies) para ensino superior tem
mais demanda do que oferta. Temos
um orçamento de mais de R$ 2 bilhões
em convênios firmados, desde
2009.
DINHEIRO – Qual é o orçamento
desses projetos?
HADDAD – Se considerarmos
todos os programas ligados ao
Pronatec, incluindo o que a União vai
investir, o Sistema S e os recursos
do Fies, dá mais de R$ 10 bilhões.
São recursos novos, além dos R$ 60
bilhões de orçamento do Ministério
da Educação.
DINHEIRO – Como se definem
os cursos que serão criados
e onde?
HADDAD – Infelizmente, teremos
de começar onde houver capacidade
de oferta. Temos poucas escolas
técnicas no Brasil e, à luz das
necessidades, deveríamos ter o dobro
ou o triplo do atual. Mas o
Pronatec vai favorecer a expansão
da oferta porque o BNDES terá uma
linha de financiamento para ampliação
da rede física. Do lado da demanda,
haverá as bolsas e o financiamento
estudantil para as empresas.
Então, temos uma combinação virtuosa
de oferta e demanda. Nos próximos
anos, teremos mais pessoal
capacitado, tanto para a construção
civil, que está com um gargalo enorme,
quanto para outras áreas técnicas.
DINHEIRO – Mesmo perto do
pleno emprego, não houve queda
nos gastos com seguro-desemprego.
A qualificação melhora isso?
HADDAD – Algo que estamos
pensando é condicionar a concessão
do seguro-desemprego à frequência
em cursos profissionalizantes, sobre-
Continuação
Continuação 11/05/11
tudo para os reincidentes. A lei autoriza
a União a condicionar o pagamento
do benefício ao comparecimento
a um curso. Não vamos negar
o benefício ao desempregado,
mas ao fazer o curso de qualificação
o trabalhador reduz a chance de voltar
a depender desse dinheiro. Hoje
o seguro-desemprego consome R$
24 bilhões.
DINHEIRO – Como o Brasil
se compara com outros países na
formação de mão de obra?
HADDAD – Isso depende para
onde olhamos. Tanto do ponto de
vista qualitativo como do quantitativo,
a educação brasileira está sendo
notada pelos organismos internacionais,
como os da OCDE, do Banco
Mundial, da Unesco. Por exemplo,
o Banco Mundial destacou o aumento
da escolaridade brasileira, que
superou em proporção ao da China.
O da OCDE coloca o Brasil entre
os países que mais evoluíram em
qualidade na década, embora partindo
de um patamar ainda baixo. Há
um certo consenso de que nós tiramos
a educação brasileira da inércia.
Nos últimos cinco anos, nós elevamos
em um ponto porcentual o
investimento em educação em relação
ao PIB, de 4% para 5% do PIB.
DINHEIRO – A meta é chegar
a quanto?
HADDAD – A ideia é chegar em
7% até o fim da década. O PNE está
agora no Congresso Nacional, onde
vamos discutir quando vamos chegar
a 7%.
DINHEIRO – O relatório do
Banco Mundial diz que o Brasil
investe tanto quanto outros países,
só que com maus resultados...
HADDAD – Vamos ponderar.
Educação não se compra à vista nem
em suaves prestações. Não adianta
chegar a 5% do PIB. A questão é
durante quanto tempo se investiu 5%
do PIB e essa é a pergunta que o
relatório não faz. É um fruto que se
colhe numa geração. Só agora começamos
a investir isso. Os outros
países já investem esse percentual há
décadas. E, no século passado, o
Brasil investiu cerca de 2% do PIB.
Não é em um ano que vamos pagar
uma dívida de 100 anos.
DINHEIRO – Os empresários
se queixam muito da distância
entre o currículo das universidades
e a realidade da indústria.
O sr. concorda?
HADDAD – O plano de expansão
previa também a reestruturação
curricular. Essa dimensão não foi tão
valorizada pelas universidades quanto
a expansão. Isso é correto afirmar.
Mas há universidades que têm
projetos pedagógicos diferenciados.
DINHEIRO – A presidente
Dilma anunciou 75 mil bolsas
para formação no Exterior na
área de exatas até 2014 e pediu
que o setor privado financie mais
25 mil. Já tem empresas interessadas
nesta parceria?
HADDAD – Ainda não deu tempo,
vamos começar a conversar com
as empresas agora. Vamos dividir
essas bolsas principalmente em duas
categorias: bolsas de doutorado e
uma graduação sanduíche, na qual o
aluno faz um ano da graduação numa
instituição parceira no exterior. Isso
tem um impacto muito grande na
volta, pela experiência que ele viveu,
e os custos são relativamente baixos.
Hoje temos cerca de 5,5 mil estudantes
em intercâmbio no Exterior e
queremos aumentar para 100 mil até
2014.





Comissão discute o Plano Nacional de Educação

A comissão especial sobre o Plano Nacional de Educação (PNE ‐ PL 8035/10) realiza audiência
pública nesta quarta‐feira (11) sobre a qualidade da educação. O debate foi proposto pelo
relator da comissão, deputado Angelo Vanhoni (PT‐PR). A comissão é presidida pelo deputado
Gastão Vieira (PMDB‐MA).
Foram convidados representantes da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), da Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e do Movimento Todos pela Educação.
A comissão
Instalada em 13 de abril, a comissão analisa a proposta de política educacional do governo
para o decênio 2011‐2020. O projeto estabelece que 7% do Produto Interno Bruto (PIB) será
investido em educação ao longo desse período. Esse mesmo percentual já estava previsto no
PNE anterior (2001‐2010), mas entidades que atuam na área afirmam que a meta não foi
cumprida. Pelos cálculos do Ministério da Educação, a implantação do novo plano custará R$
80 bilhões. A edição de um novo Plano Nacional de Educação a cada década está prevista na
Constituição.
A reunião será realizada às 14h30 no plenário 10.

Fonte: e-mail secretaria do MIEIB.